Governo: Do Absolutismo Ao Iluminismo
Antes de ler o texto, assista o vídeo abaixo:
Em 1989, o autor Cassiano Gabus Mendes (1929/1993) escreveu a novela Que Rei Sou Eu, que foi ao ar entre fevereiro e setembro. Essa telenovela estreou exatamente duzentos anos depois da Revolução Francesa (1789), e tinha como "pano de fundo" a história de um reino fictício, chamado Avilan.
Na cena acima, a Rainha Valentine (Tereza Rachel, 1935/) anuncia a morte do Rei Petrus II. O bruxo Ravengar (Antonio Abujamra, 1932/) lê o testamento do Rei, e todos ficam sabendo que ele teve um filho com uma camponesa. Repare na cara dos ministros do Rei, todos com olhares traiçoeiros...
Essa telenovela, assim como muitas outras, além de filmes e peças de teatro, já mostraram (e ainda mostram) como era a vida no tempo dos reis e rainhas, príncipes e princesas. A sociedade daquela época era bem definida:
Mas, como as pessoas chegaram a "endeusar" outras pessoas, os reis e rainhas, a ponto de separá-los das demais pessoas? Vejamos:
Na Idade Média, os reis e rainhas eram importantes, mas não tinham tanto poder. Se houvesse uma crise de alimentos, por exemplo, camponeses e nobres passavam fome juntos. O rei era um general, que tinha que lutar junto com seu exército, e podia morrer em batalha. Não haviam grandes privilégios.
Mas, com o passar do tempo, surgiu uma nova classe, chamada burguesia. Os burgueses eram basicamente comerciantes (burguesia mercantil) e banqueiros (burguesia financeira), bem como suas famílias. Moravam nas vilas, chamadas de burgos, e desenvolviam comércio, diferente dos nobres, que viviam na zona rural, e dependiam da agricultura e da criação de animais. Abaixo, a cidade medieval de Carcassonne (França):
A burguesia começou a desenvolver o comércio entre as vilas. Mas o transporte de mercadorias, as taxas para passar pelas fronteiras, as diferentes medidas de peso, moedas e leis, atrapalhavam seus negócios. A saída seria se houvesse a união entre os feudos. Para que isso acontecesse, o Rei teria que ter mais poder que os senhores feudais. Assim, os burgueses passaram a desejar que o Rei se tornasse realmente poderoso. Mas como?
No Século XV nascia em Florença o escritor Nicolau Maquiavel (1469/1527), um dos maiores teóricos desse novo tempo. Tendo trabalhado no Governo de sua cidade, ele observou como as coisas aconteciam e, em 1513, escreveu sua obra-prima: O Príncipe. Nesse livro, Maquiavel escreveu sobre a conduta dos governantes, como eles deveriam agir. Observe esse trecho:
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa, está perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma, são compradas mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna possível utilizá-las. E os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a amizade é mantida por um vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em cada oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que jamais se abandona.
A teoria de Maquiavel (na imagem abaixo) era estranha para a época: dizia que os líderes deveriam ser temidos, porque o ser humano é interesseiro, e reis bondosos não tinham futuro. Em resumo, ele dizia: "os fins justificam os meios". Estranha novidade...
(Fonte: Revista Veja, Edição 2083, de 22/10/2008 - http://www.josecarlosaleluia.com.br/novo/noticia/detalhe.asp?cod=12488 )
Maquiavel afirmou que o Rei deveria ser forte e Bodin afirmou que o poder do Rei vinha de Deus (Teoria do Direito Divino). Para completar, temos o pensamento de Jacques Bossuet (1627/1704), que escreveu A Política Tirada da Sagrada Escritura (1709), endossando a Teoria do Direito Divino, e Thomas Hobbes (1588/1679), que escreveu Leviatã (1651), onde afirmava que os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado.
Em resumo, o Absolutismo foi criado com as idéias de Maquiavel, Bodin, Bossuet e Hobbes, e teve força entre os séculos XVI e XVIII, na Europa. Mas, será que o povo aceitou calmamente isso?
Digamos que, usando uma frase popular, o "feitiço virou contra o feiticeiro": os reis se tornaram tão poderosos que, ao invés de ajudarem, começaram a atrapalhar. O seu poder estava ficando muito grande, e nada podia ser feito sem seu consentimento. E a burguesia continuava sendo discriminada...Assim, novas idéias começaram a surgir. Algumas delas:
Antes de ler o texto, assista o vídeo abaixo:
Em 1989, o autor Cassiano Gabus Mendes (1929/1993) escreveu a novela Que Rei Sou Eu, que foi ao ar entre fevereiro e setembro. Essa telenovela estreou exatamente duzentos anos depois da Revolução Francesa (1789), e tinha como "pano de fundo" a história de um reino fictício, chamado Avilan.
Na cena acima, a Rainha Valentine (Tereza Rachel, 1935/) anuncia a morte do Rei Petrus II. O bruxo Ravengar (Antonio Abujamra, 1932/) lê o testamento do Rei, e todos ficam sabendo que ele teve um filho com uma camponesa. Repare na cara dos ministros do Rei, todos com olhares traiçoeiros...
Essa telenovela, assim como muitas outras, além de filmes e peças de teatro, já mostraram (e ainda mostram) como era a vida no tempo dos reis e rainhas, príncipes e princesas. A sociedade daquela época era bem definida:
Mas, como as pessoas chegaram a "endeusar" outras pessoas, os reis e rainhas, a ponto de separá-los das demais pessoas? Vejamos:
Na Idade Média, os reis e rainhas eram importantes, mas não tinham tanto poder. Se houvesse uma crise de alimentos, por exemplo, camponeses e nobres passavam fome juntos. O rei era um general, que tinha que lutar junto com seu exército, e podia morrer em batalha. Não haviam grandes privilégios.
Mas, com o passar do tempo, surgiu uma nova classe, chamada burguesia. Os burgueses eram basicamente comerciantes (burguesia mercantil) e banqueiros (burguesia financeira), bem como suas famílias. Moravam nas vilas, chamadas de burgos, e desenvolviam comércio, diferente dos nobres, que viviam na zona rural, e dependiam da agricultura e da criação de animais. Abaixo, a cidade medieval de Carcassonne (França):
A burguesia começou a desenvolver o comércio entre as vilas. Mas o transporte de mercadorias, as taxas para passar pelas fronteiras, as diferentes medidas de peso, moedas e leis, atrapalhavam seus negócios. A saída seria se houvesse a união entre os feudos. Para que isso acontecesse, o Rei teria que ter mais poder que os senhores feudais. Assim, os burgueses passaram a desejar que o Rei se tornasse realmente poderoso. Mas como?
No Século XV nascia em Florença o escritor Nicolau Maquiavel (1469/1527), um dos maiores teóricos desse novo tempo. Tendo trabalhado no Governo de sua cidade, ele observou como as coisas aconteciam e, em 1513, escreveu sua obra-prima: O Príncipe. Nesse livro, Maquiavel escreveu sobre a conduta dos governantes, como eles deveriam agir. Observe esse trecho:
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa, está perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma, são compradas mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna possível utilizá-las. E os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a amizade é mantida por um vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em cada oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que jamais se abandona.
A teoria de Maquiavel (na imagem abaixo) era estranha para a época: dizia que os líderes deveriam ser temidos, porque o ser humano é interesseiro, e reis bondosos não tinham futuro. Em resumo, ele dizia: "os fins justificam os meios". Estranha novidade...
O Príncipe só foi publicado em 1532, dois anos depois do nascimento de Jean Bodin (1530/1596):
Em Os Seis Livros da República, de 1576, Bodin escreve que, acima do rei, só existiam a lei divina e a lei natural. Por esse motivo, ele detinha o poder – soberano – de fazer as leis, declarar a guerra, nomear os ocupantes dos principais cargos militares e administrativos, emitir moeda, criar impostos, anistiar os condenados e julgar em última instância. Em contrapartida, esperava-se do rei que se encarregasse apenas dos assuntos públicos, deixando as questões particulares aos indivíduos. O que incluía respeitar o direito de propriedade privada – uma novidade e tanto em relação ao feudalismo.
(Fonte: Revista Veja, Edição 2083, de 22/10/2008 - http://www.josecarlosaleluia.com.br/novo/noticia/detalhe.asp?cod=12488 )
Maquiavel afirmou que o Rei deveria ser forte e Bodin afirmou que o poder do Rei vinha de Deus (Teoria do Direito Divino). Para completar, temos o pensamento de Jacques Bossuet (1627/1704), que escreveu A Política Tirada da Sagrada Escritura (1709), endossando a Teoria do Direito Divino, e Thomas Hobbes (1588/1679), que escreveu Leviatã (1651), onde afirmava que os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado.
O maior exemplo de Absolutismo Monárquico foi o Rei Luis XIV (1638/1715). Ele disse, uma vez, que "O Estado sou eu". Isto significava que a sua vontade tinha poder de lei. Quando ainda era jovem, foi num baile à fantasia, e decidiu se fantasiar de "Sol", o Astro-Rei. Dali em diante, passou a ser conhecido como "Rei Sol". Na foto acima você pode ver detalhe do desfile da Escola de Samba Grande Rio que, em 2009, lembrou desse rei. Se quiser pode ver um trecho do desfile:
Em resumo, o Absolutismo foi criado com as idéias de Maquiavel, Bodin, Bossuet e Hobbes, e teve força entre os séculos XVI e XVIII, na Europa. Mas, será que o povo aceitou calmamente isso?
Digamos que, usando uma frase popular, o "feitiço virou contra o feiticeiro": os reis se tornaram tão poderosos que, ao invés de ajudarem, começaram a atrapalhar. O seu poder estava ficando muito grande, e nada podia ser feito sem seu consentimento. E a burguesia continuava sendo discriminada...Assim, novas idéias começaram a surgir. Algumas delas:
- John Locke (1632 - 1704), filósofo inglês. Escritos mais importantes: Ensaio sobre o entendimento humano (1689); Dois tratados sobre governo (1689). No primeiro, desenvolveu a teoria sobre a origem e a natureza de nossos conhecimentos. Suas ideias ajudaram a derrubar o Absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões.
- Montesquieu (Charles-Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu) (1689-1755), filósofo francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), contida no livro Do Espírito das Leis (1748).
- Voltaire (pseudônimo de François-Marie Arouet) (1694-1778), defendia uma monarquia esclarecida. Filósofo francês, era deísta (acreditava que para chegar a Deus não era preciso a igreja, e sim a razão). Notabilizou-se pela sua oposição ao pensamento religioso e pela defesa da liberdade intelectual. Escritos mais importantes: Ensaio sobre os costumes (1756); Dicionário Filosófico (1764) e Cartas Inglesas (1734).
- Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suiço. Escrito mais importante: Do Contrato Social (1762). Nessa obra, afirma que o povo faz um "contrato" com o soberano, onde o limite é a soberania: o líder não pode ir contra a vontade geral.
Esses quatro pensadores, e outros, como Adam Smith, Diderot e D'Alembert, ficaram conhecidos como Iluministas. A ideia deles era "iluminar" o pensamento das pessoas, a fim de que elas acabassem com o Absolutismo, criando um novo tipo de Governo, onde a voz do povo fosse ouvida, e a lei estivesse acima de todos (no Absolutismo, o Rei estava acima da lei). Abaixo, Montesquieu:
Obviamente, quem se "apropriou" das idéias dos Iluministas foram os burgueses. E, no final do Século XVIII, esse grupo social promoveu a Revolução Francesa (1789/1799), que acabou levando o Rei Luis XVI (tataraneto de Luís XIV) e a Rainha Maria Antonieta para a guilhotina. Era o começo de uma nova era...
Vocabulário
1 - Burguesia/burgueses
2 - Camponeses
3 - Teoria do Direito Divino
4 - Absolutismo
5 - Direitos naturais
6 - Teoria da Separação dos Poderes
7 - Iluministas/Iluminismo
8 - lei
9 - Revolução Francesa
10 - guilhotina
Atividades
1 - Crie uma tabela e a divida em dois: Absolutismo e Iluminismo. Depois, faça um resumo dos quatro teóricos do absolutismo e dos quatro teóricos do Iluminismo:
2 - Se o Rei Luís XIV ficou conhecido pelo poder, a esposa de seu tataraneto, a Rainha Maria Antonieta, esposa de seu tataraneto, ficou conhecida pela futilidade. Enquanto o povo passava fome, dizia-se que ela gastava muito. Assista ao trecho do filme Maria Antonieta, de 2006, analisando-o historicamente:
Secylhane 2°D NOITE
ResponderExcluirPARABENS UM OTIMO BLOG
Que bom que você gostou! E o que achou dos textos?
ExcluirMuito bom os Textos professor, mas como eu disse ao senhor em Aula, é muito melhor prestar bastante atenção na explicação, é bem mais resumida, maas gostei muito dos textos, percebi que citou Jean Jacques Rousseau, Ja tinha ouvido muito sobre sua teoria . Gostei =]
ResponderExcluirAss:Angela 2ºA
"Geralmente aqueles que sabem pouco falam muito e aqueles que sabem muito falam pouco." Jean Jacques Rousseau
ResponderExcluirEntão, você entendeu o que eu espero, né? Fale pouco, mas diga tudo! ^^
muito bom os textos professor começei a intender melhor o que os filosofos do absolutismo e iluminismo e gostei do trecho o principe
ResponderExcluirQue bom que você gostou, Rubdon! Assim ajudará a compreender melhor a Atividade I! Ha! Preciso saber a qual Segundo Ano você pertence.....
ResponderExcluirAchei muito interessante! Lembrei até do que a Professora Denise falou ano passado sobre os burgueses... Bem interessante essa recapitulagem Rogério!
ResponderExcluirAhh sou do 2ºA
Excluiraqui e o bruno do 2°c esse texto e bem interessante fala bastante sobre do absolutismo e a burguesia q eu já tinha esquecido
ResponderExcluir