segunda-feira, 7 de maio de 2012

Texto 8 - Terceiros Anos

As Revoltas Populares da República Velha (1ª Parte)

Como sabemos, o período entre 1889 e 1930 corresponde à República Velha. Nesse Período, o povo não participava ativamente da República, pois as decisões ficavam nas mãos de poucos. Mas isso não significa que o povo ficasse quieto, e não se revoltasse. Pelo contrário, houveram diversas revoltas populares na República Velha. Vamos analisá-las:

1) Primeira Revolta da Armada (1891): como já estudamos, o Almirante Custódio José de Melo (1840/1902, abaixo) ameaçou bombardear a cidade do Rio de Janeiro, Capital do Brasil, caso o Presidente Marechal Deodoro da Fonseca, não renunciasse. A estratégia funcionou, e o Presidente renunciou, sendo sucedido por seu vice, Marechal Floriano Peixoto;


2) Segunda Revolta da Armada (1892 a 1894): de acordo com a Constituição de 1891, Floriano Peixoto deveria marcar novas eleições para Presidente da República, e não o fez. Assim, Custódio de Melo e outros resolveram ameaçá-lo, assim como fizeram com Deodoro da Fonseca, no ano anterior. Mas Floriano Peixoto não cedeu e os perseguiu. Os revoltosos fugiram para o Sul do país, e lutaram até 1894, quando foram derrotados.

3) Revolta Federalista (1893 a 1895): os seguidores de Gaspar da Silveira Martins (1835/1901) eram chamados de maragatos. Os seguidores de Júlio de Castilhos (1860/1903) eram chamados de pica-paus. Entre 1893 e 1895, maragatos e pica-paus se enfrentaram, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O motivo dessa revolta é que os maragatos queriam que a República fosse federalista, e os pica-paus defendiam a centralização do poder. O resultado foi a morte de cerca de 10 mil pessoas, entre maragatos, pica-paus e outros, que nem estavam defendendo lado algum. Abaixo, uma cena de degola, comum nessa Revolução:


4) Guerra de Canudos (1896 a 1897): Antônio Vicente Mendes Maciel (1830/1897) era um cearense que vagava pelo sertão nordestino, atraindo seguidores com suas palavras. Em 1893, chegou ao sertão da Bahia, onde fundou a vila de Belo Monte, em Canudos (abaixo). Ele pregava contra o casamento civil, a cobrança de impostos e a separação entre a Igreja e o Estado, obras da República.


Ele ficou conhecido como Antônio Conselheiro e reuniu, em pouco tempo, mais de 25 mil pessoas. Aos olhos de muitos, essas pessoas eram "perigosas" e, em 1896, houve o primeiro conflito entre os "conselheiristas" e o Exército, resultando em cerca de 150 conselheiristas mortos, contra 8 militares e 2 guias. No início de 1897 houve uma segunda investida contra o Arraial e em março chegou o coronel Antônio Moreira César (1850/1897), conhecido como "corta-cabeças", pois já tinha matado mais de cem, em Santa Catarina, durante a Revolução Federalista. Mas ele logo foi morto em combate. Em abril, seguiram mais de 4 mil soldados para a região do conflito. Em 22 de setembro, morreu Antônio Conselheiro, vítima de uma diarreia. Sem o seu líder, muitos conselheiristas decidiram se render, mas foram todos degolados, incluindo mulheres e crianças (abaixo). Os últimos quatro que ainda resistiram foram derrotados em 5 de outubro de 1897. A cabeça de Antônio Conselheiro foi arrancada e mandada para estudos, no Rio de Janeiro. Ao final, haviam morrido cerca de 20 mil pessoas, e mais de 5 mil casebres foram incendiados.


O escritor Euclides da Cunha (1866/1909) esteve na região, e escreveu sobre o que viu. O resultado foi a obra Os Sertões (1902). Também foi feito o filme Guerra de Canudos (1997), sobre o episódio.



5) Revolta da Vacina (10 a 16 de novembro de 1904): foi a primeira revolta urbana da República, e foi motivada pela contrariedade da população em se sujeitar à vacinação contra a varíola. Somente em 1904 morreram mais de 3500 pessoas, vitimadas por essa doença, no Rio de Janeiro. O projeto de vacinação foi criado pelo sanitarista Osvaldo Cruz (1872/1917).


"Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta de Notícias14 de novembro de 1904).


6) Revolta da Chibata (22 a 27 de novembro de 1910): até a República Velha, os marinheiros eram punidos, quando cometiam faltas, com até 25 chibatadas ou chicotadas, para as faltas graves. Em 1910, sob o comando do marinheiro João Cândido Felisberto (1880/1969), o "Almirante Negro", cerca de 2400 marinheiros se revoltaram, ameaçando bombardear a cidade do Rio de Janeiro




"Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo."

O então Presidente, Hermes da Fonseca, anistiou os amotinados, e acabou com os castigos físicos.

7) Guerra do Contestado (1912 a 1916): no início do Século XX havia uma região em litigio, na fronteira entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Essa região ficou conhecida como Contestado, porque ambos os estados contestavam a sua posse (mapa abaixo):


Nessa "terra de ninguém", instalou-se a pobreza, a ignorância e o messianismo. Entre os "curandeiros" que andaram por essa região, destacaram-se os "monges" João Maria D'Agostini (viveu e pregou na região entre 1850 e 1870), João Maria de Jesus (entre 1886 e 1908) e José Maria, que começou a pregar em 1911.Esse terceiro "monge" era, segundo relatos, desertor do exército, e seu nome verdadeiro era Miguel Lucena de Boaventura (abaixo).


Ele se dizia irmão do primeiro monge, e começou a organizar os Quadros Santos, agrupamentos onde seus seguidores começaram a viver. E, para acompanhá-lo, criou os Pares de França, grupos de 24 homens armados, uma espécie de guarda particular.



Foi nessa região que foi construída a Estrada de Ferro que ligava São Paulo ao Rio Grande de Sul, entre 1908 e 1910. Nesse mesmo ano, foi instalada a Brazil Lumber & Colonization, uma empresa estadunidense, pertencente a Percival Farquhar (1864/1953), em Calmon. Em 1912 ela foi instalada em Três Barras. Essa empresa declarou que essas terras não pertenciam a ninguém, e desapropriou o povo da região, que recorreu ao monge José Maria. Ele declarou a "monarquia celeste", fato que atemorizou os fazendeiros locais. Deslocou-se, então, de Curitibanos, onde estava, para Irani (Palmas), fato que foi visto como "tentativa de dominação de terras", pelos paranaenses. Quando tropas paranaenses foram expulsar os colonos de volta para Santa Catarina, começou a Guerra, propriamente dita.


Nesse primeiro confronto morreram o tenente João Gualberto (1874/1912) e o monge José Maria. Mas a Guerra do Contestado duraria até 1916. Depois da morte do monge, surgiu uma nova líder: Maria Rosa, uma jovem de 15 anos, que foi chamada de "Joana D'Arc do Sertão", e que incitou os sertanejos a contra-atacar, invadindo cidades e destruindo os cartórios, onde estavam as escrituras das terras que antes lhes pertenciam. E em 1914, surgiu o último líder dos sertanejos: Deodato Manuel Ramos, o Adeodato (abaixo, preso). Ele e seu grupo somente foram capturados em 1916, quando acabou a Guerra.


O resultado da Guerra do Contestado, a primeira onde foram utilizados aviões, no Brasil, foi o seguinte: cerca de 5 a 8 mil mortos, entre os sertanejos, contra 800 a 1000, entre os do Exército (incluindo os desertores). Ainda em 1916 foram organizadas as fronteiras entre os dois estados, mas as revoltas durariam anos, ainda...Abaixo, monumento ao Contestado, na localidade de Irani, próximo a Palmas (PR):


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