sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

UMA VIDA NO SÉCULO XX

Como seria a vida de uma pessoa, no Século XX? Imaginando-se que ela nascesse em 1901, em 1904 ainda seria criança, na Revolta da Vacina, e nem entenderia, quando falassem que Santos Dumont conseguiu voar no primeiro avião, em 1906. Se, em sua casa, houvesse jornal, ela poderia saber que em 1912 o Titanic afundou, e que em 1914 começou a Grande Guerra, depois chamada de Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918).
Também poderia ouvir falar da Revolução Russa, mas aos 17 anos não entenderia o que era Socialismo, e nem porque matariam a Família Real da Rússia. Talvez nem soubesse o que era uma Família Real, já que vivia numa República, que havia expulsado a nossa Família Real em 1889.
Se escapasse da Gripe Espanhola, chegaria aos Anos 20, e poderia assistir aos filmes de Charles Chaplin, no cinema, que ainda era mudo. Mas, provavelmente, já estaria trabalhando para se sustentar, como muitas pessoas, nessa idade. 
Aos 29 anos, essa pessoa saberia que Getúlio Vargas fez a Revolução de 30 e, graças a ele, as pessoas agora começariam a ter “direitos trabalhistas” como Carteira de Trabalho, Férias, etc. E também, se ganhasse bem, poderia comprar seu primeiro rádio, para ouvir as notícias, radionovelas, propagandas e as últimas músicas de Carmen Miranda e Francisco Alves.
Nosso personagem teria 38 anos, quando começaria a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) e 44 quando ela acabasse. Provavelmente, já teria filhos, alguns chegando aos 20 anos, pois casava-se cedo e tinha-se vários filhos. Um dos filhos homens correria o risco de se juntar à FEB – Força Expedicionária Brasileira, e lutaria na Itália, deixando os pais preocupados. As filhas mulheres, poderiam trabalhar fora, ou apenas se preparar para o casamento, como previa a educação, nos tempos de Vargas.
Depois da Guerra, nosso personagem veria a renúncia e a volta de Vargas, bem como seu suicídio, em 1954. E, não entenderia nada, quando Kubitschek resolvesse mudar a capital para Brasília, na Região Centro-Oeste. Nessa época, essa pessoa estaria mais preocupada em controlar os filhos, que estariam às voltas com os netos, que iriam querer frequentar os “bailinhos” onde se dançava o rock'n'roll, que aqui era chamado de iê-iê-iê. Provavelmente, essa pessoa iria se escandalizar, ao saber que um tal de Elvis Presley “requebrava os quadris” quando dançava. Seus filhos, já na faixa dos 30 anos, iriam gostar de filmes de Alfred Hitchcock e músicas de Glenn Miller, mas seus netos iriam se inspirar em James Dean e Marilyn Monroe, Marlon Brando e Brigitte Bardot.
Aos sessenta e poucos anos, nosso personagem iria achar certo que os militares tomassem o poder, e o tal “comunista” João Goulart saísse, já que todos diziam que ele não prestava para governar. E talvez, discutisse com os netos, que pensavam justamente o contrário. Mas, se tivesse um neto “mais rebelde”, iria rezar para que ele não se envolvesse com essas questões políticas. E iria achar estranhos os cabeludos Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso e a tal Rita Lee, que “nem parecia brasileira”. Os hippies, os maconheiros, a minissaia e a pílula anticoncepcional deveriam ser coisas de outro planeta, para essa pessoa. E, quando o homem pousasse na Lua, em 1969? O que dizer? Seus filhos, com mais de 30 anos, talvez tentassem lhe explicar que as imagens na televisão eram reais, mas deveria ser difícil para ele acreditar...
Depois, viriam os Anos 70, a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, os Anos 80, o fim da Ditadura (que nosso personagem diria nem ter notado), os netos ouvindo rock em português, dizendo que uma tal de Legião Urbana e Titãs eram muito bons de ouvir, e nosso personagem iria começar a se perguntar quando iria finalmente “descansar” de toda essa loucura que foi o Século XX...


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